Eu realmente achava que eu não te amaria e tive medo de não retribuir na mesma intensidade com que eu via aflorar em você. Mas tudo mudou quando estávamos caminhando e você simplesmente segurou em minha mão. Naquele exato momento eu senti segurança, a mesma segurança que só uma pessoa me passou a vida inteira, meu pai.
O tempo foi passando e me ensinando de como era fácil te amar, de como você faria sem o mínimo de esforço tirar um sorriso do meu rosto, e de como você foi rápido e rasteiro em tirar minha frieza, aquela que eu carregava das minhas antigas decepções. Mas isso não vem ao caso.
Eu gostava e ainda gosto de lembrar de quando nós íamos no morro do careca depois de um dia exaustivo de trabalho e combinávamos em não ir pra aula, e nos divertiamos em ver Chaves. De como nós devorávamos aquela deliciosa batata frita do Tavares, de como nós éramos felizes em ver The Walking Dead e de como você falava: "vê lá, não vai acontecer nada." E até das tentativas fracassadas de me ensinar a jogar video game e da maneira como eu apertava todos os botões ao mesmo tempo por pura falta de coordenação.
E dos dias de sol em que eu lhe esperava ansiosa no banco, e dizia: "Senta aqui.", só pra que você sentisse o banco aquecido, e curtisse comigo aquele momento em que eu te mostrava a pontuação em Nyan Cat, ou não.
Das vezes em que fazia pacotinhos pra guardar seus cupcakes, ou quando comprava dois bombons e comia o seu, logo me pesava a conciência e comprava outro.
De como você me ensinou a gostar de Star Wars, e de quando dávamos aquela pausa no filme porque o desejo do amor falava mais alto.
Lembro da tua decepção quando soube da morte de Steve Jobs, de quem continuaria os projetos. E da sua reação quando soube que iria sair o filme dos Hobbits.
Lembro de quando você se preocupou comigo quando eu tive que ir várias vezes ao hospital, e do meu choro quando vi o tamanho da agulha, e quando chegou no outro dia para me visitar trazendo suquinhos de uma marca que eu nunca tinha visto na vida. E eu também estava ao seu lado quando você passou por complicações, e levei os mesmos suquinhos pra você, e da maneira como me contou surpreso referente a visita do Marcus Dejean. E do bombom de sonho de valsa que ainda estava ao lado de sua cama quando chegou em casa. A mesma cama onde nos amamos, e onde eu chorei quando foi para o hospital, até porque eu não sabia o que você tinha, e foi muito dolorido chegar ao apartamento da pessoa que eu amava e ver suas fotos de criança logo na entrada, e deitar na sua cama, sentir o seu cheiro.
Lembro do dia em que acordei com sua mãe chegando em casa, com os olhos vermelhos, e chorando no sofá preocupada.
Foi a época em que aprenderam a minha carteira e seu tio foi o salvador da pátria.
Lembro de quando eu te liguei pra vir na minha casa pra jantar, pois tinha feito uma macarronada. Naquele dia eu me senti sua mulher, nossa primeira janta juntos.
Gosto de lembrar dos dias que dormia comigo e de como eu sempre gostei das suas caras e bocas quando eu falava: "suco de couve" ou "alface". E da cara que você fazia ao engolir a cenoura sem mastigar e logo surpreendia sua garganta com um imenso gole de qualquer coisa. E de quando eu te dei de comer uma maçã e você olhou pra mim e disse: "Até que é bom!"
E quando na véspera do meu aniversário o Lothar morreu, de quando meu pai me pressionava psicologicamente, de quando eu fiquei sem onde morar e sua família me acolheu.
De como nós gostávamos de tirar um cochilo depois do almoço e quando nós fazíamos amor antes de voltar ao trabalho, "Ainda dá tempo!".
Das vezes que eu chorava na cama sem motivo e você não me deixava dormir enquanto eu não falasse.
Da maneira como nós empurramos a moto até o posto porque a gasolina tinha acabado, e depois que nós enchemos o tanque vimos que ambos estavam sem dinheiro. Tivemos que ligar para o seu pai, lembra? E de como aquela sua antiga moto custava a pegar e você ficava nervoso porque eu achava engraçado.
Das vezes que cada um escolhia os presentes e surpresas, apesar de que eu nunca soube surpreender você, até porque eu acho que ficava mais ansiosa e acabava dando pistas demais, como aconteceu no seu aniversário. "Não vou dizer onde vou comprar seu presente... é na Marcelo".
Sabe, eu fiquei emocionada quando eu sentei pra escolher as nossas alianças e fiquei bem assustada com o pedido avassalador de namoro e com o primeiro "Te amo" dentro do Open, até porque além de termos ficado apenas por uma semana, tudo era muito novo, não sabia nem o que estava sentindo no momento, era uma mistura de vários sentimentos, que se transformaram com o tempo, e lhe dei o nome de amor.
Lembro de quando fomos à Piçarras, e de como você ficou com os pés roxos e ardentes por uma semana por causa do sol e da maneira como a luz reluziam neles(ainda bem que estávamos de óculos escuros), e de como nós torramos dinheiro em cerveja, sorvete e naquele inesquecível milk-shake de nutella que te custou onze reais. E falando em comida, lembro da pizza mal escolhida na Pizza Bis, comemos apenas a metade, porque no sabor que dizia: CHESTER, só tinha tomate, e ambos não gostamos de tomate. E da maneira como eu esquematizei para falar pra garçonete que era seu aniversário, e da surpresa que fiz pra você naquela noite.
Lembro de nós decidindo o dia do noivado e de quando nós trocamos a data por falta de dinheiro e também de tempo.
E dos sustos que levamos quando o médico disse pra eu fazer um exame de gravidez e da maneira como ficamos perturbados a madrugada inteira esperando o resultado aparecer na tela, atualizando-a de uma em uma hora. Essa noite parecia não ter fim.
De como você me fez arrepiar pela primeira vez encostando a barba na minha nuca. Da maneira como me estremecia por dentro, de uma maneira fantástica, mágica, sobrenatural.
E de quando nós ficávamos imaginando de como nossos filhos seriam, como eles se chamariam, e eu confesso que até calculava a data de seu nascimento.
Gostava de te chamar de "Mestre-Pança" e da maneira como eu me sentia confortável ao deitar nela. Gostava de mexer no seu cabelo e fazer penteados, fazer carinho em sua nuca, e te fazer arrepiar a espinha.
Gostava de ouvir quando me contava sobre sua infância e das suas fotos.
Gosto de lembrar das suas manias de deixar as roupas dobradas sobre a TV, mesmo sabendo que existe um espaço só seu no meu armário. E da maneira como fazia seu omelete e de como não gostava quando eu dava palpites.
Gosto de lembrar quando eu subia as escadas e você me surpreendia com um tapa na bunda, e eu te olhava com uma cara de brava. Você sempre prometia que não faria mais, mas como você costumava dizer, era como se fosse um imã.
E de como você falava a letra "R" no final das palavras, e eu pedindo para que repetisse.
Eu gosto de lembrar de todas as sensações, de todas as emoções, de todos os sentimentos, de todos os momentos.
(primeiro passeio)
Mas de uma coisa eu sei.
Eu não gostava do seu cheiro, e a sua voz era mais bonita no telefone. O nosso beijo foi se moldando conforme nossos lábios de envolviam e nossos olhares se tornavam cada vez mais intensos. E mesmo sabendo de tudo isso, não demorou muito pra eu me sentir um peixe fisgado.
Eu me senti fora da água, e mesmo fora dela aprendi a respirar você.
Aprendi com esse tempo que fiquei sem ter você, sem segurar a tua mão, sem beijar teus lábios, sem te fitar os olhos, que eu não sou nada sem você.
Que você é a chave da minha porta, a peça final do meu quebra-cabeça, a tampa da minha panela, a metade da minha laranja, o feijão do meu arroz, o bacon do meu Cheeseburguer, o molho de alho da minha batata frita, o marca página do meu livro.
Você é o buraco na minha cabeça. Você é o espaço na minha cama. Você é o silêncio entre o que eu pensava e o que eu disse. Você é o medo noturno. Você é a manhã, quando está claro. Quando tudo acaba, você é o início. Você é a minha mente e você é o meu coração.
(nós, como deveria ser)
O Neni da Tuti.