quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

persönlichkeit 01


Suas personagens são criaturas tristes e solitárias, bêbados, poetas vagabundos, operários humilhados, mulheres reprimidas, homossexuais atordoados pela perseguição, atores sem papel, damas decadentes, virgens loucas, prostitutas feridas. Sem exceção, um mesmo estigma os tortura: estão sós.(Tennessee Williams)
Já fui Blanche DuBois que Tenessee pintou e bordou dentro de um drama inconfundivel, uma pessoa que dependia da bondade de estranhos, mulher dissumulada.
Blanche: Não. Era um menino, apenas um menino, quando eu ainda era muito jovem. Aos dezesseis anos fiz uma grande descoberta - o amor! Foi tudo tão simples, tão completo. Foi assim como se acendesse uma luz intensa, num lugar que estivesse sempre no escuro. Foi assim que ele iluminou esse mundo pra mim. Mas não tive sorte. Desiludi-me logo. Havia nele qualquer coisa muito estranha... Um nervosismo, uma doçura, uma delicadeza que não eram próprios de um homem - se bem que ele não tivesse nada de efeminado. Mas havia qualquer coisa... Ele me procurava em busca de ajuda. E eu não sabia nada disso. Não descobri nada, até depois do nosso casamento... Foi então, que eu percebi que o havia enganado de uma maneira tão misteriosa e que eu não lhe estava dando a ajuda de que ele necessitava, mas da qual não podia falar! Ele estava num atoleiro e agarrava-se em mim. Não estava o puxando pra fora, eu estava afundando com ele. E eu ainda não sabia de nada. Exceto de que eu o amava acima de todas as coisas. Foi então que eu descobri, e da pior maneira possível. Entrando, de repente, num quarto em que eu julgava estar vazio, mas que não estava. Havia nele duas pessoas. O jovem com quem eu me casara e um senhor de mais idade que tinha sido amigo dele durante anos e anos... Mas tarde fizemos de conta de que nada disso havia acontecido. Fomos os três juntos ao Cassino Moon Lake, bêbados, rindo e cantando o tempo todo. Dançamos a varsoviana... De repente, no meio da dança, o jovem com quem eu tinha me casado afastou-se de mim e saiu correndo pelo salão. Poucos momentos depois, ouviu-se um tiro. Saí correndo, todos saíram correndo e aglomeraram-se em torno daquela coisa horrível, à beira do lago. Eu não podia ver nada, pois havia tanta, tanta gente! Foi então que alguém me tomou pelos braços e disse: "Volte, volte! Você não vai querer ver, vai?" Ver? Ver o quê?. Então ouvi vozes que diziam: Allan, Allan! Ele tinha metido o revólver na boca e atirado e a parte de trás de sua cabeça tinha voado pelos ares. Durante a dança, incapaz de conter-me eu havia lhe dito: "Eu vi, Allan, eu sei de tudo, você me repugna". De repente a luz que vinha iluminando a minha vida apagou-se de repente. E nunca mais houve outra luz em minha vida que fosse mais forte que esta pobre luz de vela...